Eminem Shakespeare do rap

Recebi um texto hoje que eu ja tinha lido mas não tinha divulgado no blog,mas agora ta ai pra quem ainda não leu,é mt interessante....

Eminem, nome artístico de Marshall Bruce Mathers III, nasceu em 17 de outubro de 1972, é um rapper, compositor e produtor musical estadunidense.

EminemO artista é detentor de 13 prêmios Grammy e um Oscar de melhor canção original pela música “Lose Yourself”, que fez parte da trilha sonora do filme ‘8 Mile’.
Levou certo tempo para que o artista conquistasse seu espaço e sua explosão foi meio que uma compensação pelos fracassos e problemas que colecionou. Eminem conseguiu deixar para trás o passado e o transformou em histórias cáusticas e irônicas. Sua habilidade em criar rimas cheias de angústia e revolta é espetacular. No ano de 2003, o poeta irlandês Seamus Heaney (vencedor do Prêmio Nobel da Literatura em 1995) além de denominar Eminem como o Shakespeare moderno, fez a seguinte declaração: “Eminem criou um senso do que é possível. Ele enviou uma tensão em torno de uma geração. Ele fez isso não apenas através de sua atitude subversiva, mas também a partir de sua energia verbal”.
O talento de Eminem é reconhecido principalmente pelo fato do rapper transitar por inúmeras temáticas e gêneros literários, como por exemplo, gênero carta na música Stan; gênero memória literária nas músicas Brain Damage, Mockinbird, Cleanin Out My Closet; gênero gótico nas músicas Underground, 3am, 97 Bonnie Clyde; discurso polifônico na música Guilty Conscience, que conta a história dos dois lados da consciência: o bem, interpretado por Dr. Dre e o mal, representado pelo Eminem.
Ao longo de sua carreira o rapper também já fez músicas de protesto contra o comportamento do presidente George Bush em relação à guerra ao Iraque nas músicas White America e Mosh.
Vale destacar também que o rapper utiliza três timbres de vozes diferenciados, sendo que cada voz é dotada por uma personalidade peculiar, assim sendo, Eminem reivindica para o rap seu status artístico, integrando teatralidade ao gênero musical.
Ao destacar-se por suas performances vocais diferentes, o rapper se assemelha aos poetas trovadores, pois a excelência de sua poética é constituída da soma da escrita com a oralidade. Portanto, Eminem nos transporta de certo modo à Idade Média, em que a poesia era essencialmente performática, sendo obra realizada de um eu-trovador para um tu-plateia. Sua música é decididamente declamada de forma intensa, causando os mais diversos efeitos sensoriais no ouvinte, percebemos a materialidade, o peso das palavras e sua estrutura acústica.
Adam Bradley, professor de Inglês da Universidade de Colorado – Boulder e autor do livro Book of Rhymes: The Poetics of Hip Hop, faz uma análise das diferentes performances vocais de Eminem: “O uso de múltiplas personalidades com estilos diferentes de rima do Eminem é a sua maior contribuição para o Hip-Hop. Como Slim Shady, há violência cômica em desenho animado, e a voz é mais autodestrutiva. Como Eminem, ele mostra o controle. Lose Yourself, por exemplo, fica entre dez e quatorze sílabas por linha… isto é uma questão de consciência do ofício, em vez de acaso. E como Marshall Mathers: Este é profundamente emotivo. Você ouve o amor e o ódio a si mesmo sendo interpretados em suas lutas pessoais e públicas”.
O sucesso comercial de Eminem deu-se principalmente por causa de suas músicas conceituadas no gênero conhecido como memória literária, em que o escritor narra situações de sua vida sob uma perspectiva literária, buscando despertar emoções estéticas no leitor, objetivando assim, levá-lo a compartilhar suas lembranças mais intensas. Nas memórias literárias, a realidade acaba sendo utilizada como fonte de sustentação ao texto escrito e o autor tem liberdade de distorcer certos fatos para provocar no leitor os efeitos sensoriais que ele objetiva. Usar a própria vida como tema é algo que muitos artistas tentam, porém poucos têm coragem de ir até o fundo como Eminem consegue. Suas narrativas despertam o lado voyeur no ouvinte, já que o rapper faz de seus dramas pessoais questões abertas ao público.
Tratando ainda sobre o gênero memória literária, pode-se destacar a letra da música Brain Damage, na qual o artista se baseou em uma situação real em que passou quando era adolescente.
Certa vez um de seus colegas do colégio chamado D’Angelo Baily bateu tanto no Eminem que acabou ocasionando uma hemorragia cerebral, em consequência disso Eminem acabou permanecendo 10 dias em coma. Para contar essa história o artista utilizou uma tonalidade vocal mais nasalada, assumindo o papel de Slim Shady.
Quando analisamos Brain Damage sob a perspectiva textual sem a performance vocal do artista, certamente despertamos em nós o sentimento de angústia, porém quando ouvimos a narrativa declamada pela voz de Slim Shady o texto ganha um outro sentido, o artista aplica um tom irônico e consequentemente desestabiliza a sensorialidade do ouvinte, amenizando o caráter angustiante dessa narrativa.
O rapper nos surpreende ao utilizar a performance de Slim Shady, já que o ouvinte espera que o texto de Brain Damage seja recitado pela voz intensa e emotiva de Marshall Mathers, porém ao utilizar uma performance que foge de nossas expectativas padronizadas, o rapper acaba brilhantemente enaltecendo a importância e responsabilidade que a performance vocal possui em sua poética.
O rapper também já realizou músicas que abordam relacionamentos amorosos conturbados, por exemplo: ‘Love you more’ e ‘Love the way you lie parte 1 e 2’. Nessas músicas o eu-lírico confessa sua vida íntima (real ou fictícia), assinalada por várias experiências eróticas e por doloroso fracasso afetivo, ou seja, Eminem traz a questão da subjetividade, abordando o antagonismo entre o prazer da carne e a insatisfação da alma.
Nessa temática o artista revela seus medos e incertezas, êxtases e ilusões, gozos e tormentos, esperanças e decepções. A base da poética parece constituída por esse extravasamento da alma. Exatamente por isso, por ser a expressão das disposições íntimas do rapper, é que ela se concentra com tamanha intensidade. Nas três músicas os personagens parecem ser ao mesmo tempo algozes e vítimas dos crimes da paixão, homem e mulher são eternos adversários, envoltos numa relação obsessiva e corrosiva, desgastados pelo convívio conjugal.
Temos nessas músicas, círculos viciosos onde o casal não consegue e nem parece querer se desvencilhar. Eminem acaba utilizando-se também de metáforas como recurso para produção de imagens, consequentemente o artista cria significados diferentes por meio de comparações originais para fugir da obviedade, enriquecendo ainda mais sua poética. Em ‘Love The Way You Lie parte 2’ temos uma performance de intensa emotividade, na qual Marshall Mathers apresenta uma narrativa de dimensão subjetiva, centrada em imagens e caracterizada por versos sonoros e rítmicos. No início da estrofe o rapper adota uma performance vocal serena, mas logo depois ele passa a elevar o som de sua voz e consequentemente o caráter tempestivo e obsessivo do eu-lírico começa a transparecer gradativamente. Mais uma vez o artista utiliza genialmente sua performance vocal como elemento intensificador da dramaticidade.
Eminem também possui músicas em que podemos observar o exercício de metalinguagem sobre o papel do escritor e o pertencimento do significado das letras após serem publicadas. O artista entende que após suas músicas serem lançadas, dependerá unicamente do leitor/ouvinte se responsabilizar em delegar significados e interpretações para suas narrativas. Essa concepção adotada pelo rapper é evidenciada no refrão de ‘The Way I Am’: “E eu sou, o que vocês disserem que eu sou / Se eu não fosse, então por que eu diria que sou?”
Vale destacar que esse refrão da música enaltece a desconstrução do império do autor, consequentemente indo ao encontro das palavras do filósofo francês Roland Barthes:  “Um texto é feito de escrituras múltiplas, oriundas de várias culturas e que entram umas com as outras em diálogo, em paródia, em contestação; mas há um lugar onde essa multiplicidade se reúne, e esse lugar não é o autor, como se disse até o presente, é o leitor: o leitor é o espaço mesmo onde se inscrevem, sem que nenhuma se perca, todas as citações de que é feita uma escritura; a unidade do texto não está em sua origem, mas no seu destino, mas esse destino já não pode ser pessoal: o leitor é um homem sem história, sem biografia, sem psicologia; ele é apenas esse alguém que mantém reunidos em um mesmo campo todos os traços de que é constituído o escrito. É por isso que é derrisório ouvir condenar a nova escritura em nome de um humanismo que hipocritamente se arvora em campeão dos direitos do leitor.
O leitor, jamais a crítica clássica se ocupou dele; para ela não há outro homem na literatura a não ser o que escreve. Estamos começando a não mais nos deixar engodar por essas espécies de antífrases com as quais a boa sociedade retruca soberbamente a favor daquilo que ela precisamente afasta, ignora, sufoca ou destrói; sabemos que, para devolver à escritura o seu futuro, é preciso inverter o mito: o nascimento do leitor deve pagar-se com a morte do autor. ”
Diante de tudo que foi exposto, é inquestionável o fato de que Eminem é um dos artistas mais influentes e importantes do rap mundial, estando lado a lado com outros grandes gênios desse gênero musical como: 2 Pac, Rakim, Nas, Jay-Z, Notorious B.I.G., KRS-One, Big Daddy Kane, Run-D.M.C., Kanye West, Racionais MC’s, Sabotage, MV Bill etc.
A cultura Hip-Hop é muita rica e possui uma veia literária extremamente forte e criativa, desse modo, é uma pena que sejam tão poucas as pessoas que se dedicam a estudar e analisar as obras desses artistas musicais. Espera-se que um dia eles recebam o verdadeiro reconhecimento artístico e a valorização intelectual que tanto merecem.
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Por Wendell de Oliveira Albino

Natural de Florianópolis/SC. É graduado em Letras – Língua Portuguesa e Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. É fascinado pelo universo de HQs, Literatura Infantil, Literatura, Games, Cinema e Música. Tomou gosto pela leitura através de autores como: Clarice Lispector, Allan More, Frank Miller, Shaun Tan, Bukowski, Chacal, Jhon Fante, Bram Stoker e Kafka. 
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Publicado em 08/01/2014. • Tags:  
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